Instituto FALA! anuncia edital para coletivos de Pernambuco no…
Pernambuco, setembro de 2023 – Nos dias 21, 22 e 23 de setembro aconteceu no Recife, no Centro Cultural Cais do Sertão, a quarta edição do FALA! – Festival de Comunicação, Culturas e Jornalismo de Causas. O evento debateu o futuro do jornalismo e seu papel na sociedade brasileira a partir da perspectiva popular, e colocou em discussão as diferentes linguagens do cotidiano, como slam, cordel, literatura, teatro, música, modos off-line (carros de som).
Realizado pelo Instituto FALA!, o encontro reuniu grandes nomes em prol da comunicação, da cultura e do jornalismo de causas. E como na edição anterior, o encerramento foi marcado pela abertura de um novo Edital FALA!, agora direcionado a grupos de mídia independente, coletivos de comunicação popular e de jornalismo local, arte e cultura de Pernambuco, para que apresentem propostas voltadas para a produção de conteúdo informativo, visibilizando histórias e culturas de resistências a partir dos territórios periféricos.
O objetivo é estimular a produção de conteúdos jornalísticos que dialoguem com narrativas e linguagens sobre arte e culturas, comprometidas com a diversidade e em defesa dos direitos humanos e da democracia a partir das vivências dos territórios periféricos. As inscrições estarão abertas em breve, e mais informações serão divulgadas nas redes sociais e site oficial do Instituto FALA!.
“Após mais uma edição do FALA!, a abertura do edital em Pernambuco representa uma oportunidade importante para os coletivos de jornalismo independente e de comunicação popular, pois impulsiona a produção de narrativas significativas e transformadoras em nossa região, impulsionando a pluralidade de vozes no estado”, comenta Laércio Portela, um dos idealizadores do FALA!.
Festival FALA! 2023
O evento começou na quinta-feira, dia 21 de setembro, com uma intervenção artística da cantora, compositora e batuqueira Isaar, que antecedeu uma homenagem ao poeta e cronista Miró da Muribeca, falecido no ano passado. Personalidades — como a escritora, educadora, atriz e ativista dos direitos humanos, Odailta Alves, a cozinheira e CEO do restaurante Tempero de Rosa e o Hotel Central, Rosa Maria, além do ilustrador, quadrinista, designer, produtor, pesquisador e apresentador, Flavão — fizeram leitura de alguns textos de Miró, sob o ângulo da comunicação e da cultura periféricas. “A genialidade dele era tremenda porque ele tirava com sabedoria a simplicidade”, afirmou Odailta Alves, durante a homenagem ao poeta.
O primeiro dia foi encerrado com show do grupo cultural e artístico Afoxé Omô Nilê Ogunjá.
O segundo dia começou com a cantora, percussionista e diretora musical de música indígena contemporânea e reggae originário, Siba Puri. A primeira mesa de debate, moderada por Rosenildo Ferreira, jornalista e fundador do portal de notícias 1 Papo Reto, explorou o papel do jornalismo na conexão entre passado e presente. Entre os participantes, estavam a Iyalorixá do Ilê Axé Oxum Karê, mestra coquista e patrimônio vivo de Pernambuco, Mãe Beth de Oxum, Marcos Wesley, cofundador do Tapajós de Fato, iniciativa de comunicação popular do Baixo Amazonas e Tapajós, e Géssica Amorim, jornalista, fotógrafa e fundadora do Acauã, coletivo de jornalismo que atua no Sertão e no Agreste de Pernambuco.
“Eu acho que a comunicação que a gente traz do território é essa comunicação indígena, quilombola, de terreiro. São outros valores: valores que afirmam o que é negado. A gente precisa de uma comunicação que de fato retrate os problemas”, contou Mãe Beth de Oxum, na mesa de debate.
Duas oficinas foram realizadas à tarde. A primeira tratou de histórias visuais, ou seja, a comunicação em movimento, analisando as formas de reportar e narrar visualmente. Flora Rodrigues, comunicadora popular, poetisa marginal, ciberativista e coordenadora da Rede Tumulto, e Lucas Daniel, integrante do Coletivo Obirin Negra, coordenador pedagógico do Cruza Criativa e consultor de projetos ficcionais, foram os facilitadores da ação. Na segunda oficina, o tema base foi o aproveitamento da literatura, da poesia falada, do teatro e do slam para inovar narrativas jornalísticas. Participaram da atividade Akins Kintê, poeta, músico, produtor cultural, cineasta e arte-educador da Fábrica de Cultura de Diadema, e Bell Puã, poeta, cantora, compositora, atriz pernambucana e mestre em história.
No auditório, depois da apresentação de Bione, cantora, poeta marginal e atriz, houve mesa de debate sobre Incidências climáticas: meio ambiente e direito à vida em pauta, para discutir como tem sido a cobertura das tragédias recentes em vários pontos do mundo, provocadas pelas mudanças climáticas? O jornalista e cofundador da Alma Preta Jornalismo, Pedro Borges mediou o debate. Participaram do debate a repórter da Mongabay e bolsista do Pulitzer Center, Karla Mendes, o comunicador, educador e cofundador do Força Tururu, coletivo de midiativismo de favela André Fidélis, e o cineasta membro do povo indígena Kuikuro e idealizador do 1º Festival de Cinema e Cultura Indígena, Takumã Kuikuro, que em sua participação, destacou a importância dos conteúdos audiovisuais produzidos por indígenas.
“Os realizadores indígenas são mensageiros do futuro, assim a gente vai poder mostrar a nossa cultura para as gerações futuras”, disse Takumã Kuikuro.
O assunto da primeira roda de conversa foi Questões Identitárias ou estruturais? O que pode o jornalismo de causas, mediada pela doutora em ciência da comunicação pela ECA-USP Rosane Borges, com a presença da educadora, mestranda em educação, pesquisadora de gênero, sexualidade e política Ana Flor Fernandes, da jornalista e fundadora da Escola Livre de Ancestralidades Raquel Kariri , e do jornalista, doutor em comunicação e sociabilidade e coordenador na Mangue Jornalismo Cristian Góes. O programa do dia terminou com a apresentação da batalha de rap do Jornada de MCs, que apesar da chuva, fez o público vibrar com suas rimas.
O artista, bailarino, capoeirista, professor, pesquisador em dança e cultura afro do Recife Orun Santana abriu o terceiro e último dia do Fala!, seguindo-se a terceira mesa de debates, intitulada Território como Meio e Mensagem da Comunicação Posicionada. Giovana Carneiro, jornalista, colaboradora do Afoitas e repórter multimídia da Marco Zero Conteúdo foi a moderadora das análises feitas por Gilmara Santos, Iyàlorisá, ativista social, historiadora, membra da Rede de Mulheres de Terreiro da Bahia e diretora e apresentadora do Programa Voz do Axé, Bia Pankararu, indígena do povo Pankararu, residente e líder local da Aldeia Agreste, produtora cultural e audiovisual, e Edson Fly, educador popular, jornalista, ator e idealizador fundador do Núcleo de Comunicação Caranguejo Uçá.
“Em uma cidade desigual, a gente sabe que o jornalismo e a comunicação são ferramentas e não servem apenas como status. São ferramentas de grupo, de resistência, do povo negro e tradicional”, afirmou Edson Fly.
Grana e Afeto foi o tema da oficina final, ministrada por Bruna Gonçalves, percussionista, diretora financeira de blocos de carnaval e coordenadora do administrativo e financeiro da Énois, e Simone Cunha, jornalista, consultora de captação para o jornalismo e diretora de Sustentabilidade da Énois, que discorreu sobre as relações financeiras estabelecidas por indivíduos ou por coletivos, que podem ser determinantes na reprodução de um sistema desigual ou na luta contra o mesmo.
Já a última roda de conversa tratou de Educação Midiática: caminhos para combater a desinformação e o discurso de ódio, provocando reflexões sobre como o tema passa pela necessidade de letramento racial, de gênero, sexualidade e outros marcadores sociais para a construção de empatia. Mediada por Martihene Oliveira, jornalista, idealizadora do Coletivo Sargento Perifa, atuante no Mapa da Mídia Independente e Popular de Pernambuco, teve a participação de Ariel Bentes, jornalista e cofundadora da Abaré – Escola de Jornalismo, coletivo de educação midiática de Manaus, de Ana Maria Veloso, jornalista, professora da Universidade Federal do Pernambuco e coordenadora da Rede Brasileira de Jornalistas e Comunicadoras com Visão de Gênero e Raça, e Catarina de Angola, jornalista com experiência em comunicação popular e comunitária, fundadora da Angola Comunicação, agência de processos criativos e de mobilização.
Também à tarde, o coletivo Manifesto Cultural Popular fez uma intervenção no Auditório, abrindo espaço para a quarta e última mesa, com o tema Jornalismo de Causas e o tripé do poder: Política, Economia e Justiça, em que foi discutido de que maneira o jornalismo de causas pode aproximar o tripé do poder do cotidiano das pessoas. Quem conduziu foi a jornalista e editora de relacionamento da Ponte Jornalismo Jessica Santos, com participação da secretária-assistente de redação para Diversidade da Folha de S.Paulo e coordenadora do programa de treinamento voltado para profissionais negros do jornal, Flávia Lima; da professora da Universidade Federal de Pernambuco e pesquisadora de hierarquização social e da relação entre jornalismo e subjetividade Fabiana Moraes, e da professora de direito constitucional da PUC-Rio, professora visitante no African Gender Institute (Universidade da Cidade do Cabo, África do Sul), associada da ONG Criola e integrante da Assembleia Geral da Anistia Internacional no Brasil Thula Pires. Para Flávia Lima, “a gente como leitor pode cobrar da imprensa que ela faça a cobertura de maneira mais ampla e bem contextualizada porque afinal de contas, eu espero, que o que a gente faz como imprensa, afete a opinião das pessoas, o sentimento e as políticas públicas”. Ela complementa dizendo “fazer uma cobertura mais ampla, que ouça mais gente, é bastante importante”.
A parte artística da edição 2023 do Fala! terminou com um encontro entre a musicista Mãe Beth de Oxum, a cantora Rayssa Dias e o Som na Rural, veículo automotivo de comunicação urbana. No discurso final, a diretoria do Instituto FALA! anunciou a abertura do edital para Recife, visando a edição 2024.
Durante o Festival, o público também pôde apreciar os trabalhos de reportagem e produção audiovisual dos quatro coletivos de comunicação de Salvador e região metropolitana – A Voz do Axé, Entre Becos, Kalifa LXXI e Raízes BA – que foram os selecionados por meio do edital anunciado no final da última edição, em 2022, na capital baiana.
“É gratificante estar no Festival FALA!, fazendo trocas com pessoas que têm como foco os mesmos objetivos que o Entre Becos, que é sobretudo fazer um jornalismo que respeite as maiorias marginalizadas, a história dos territórios e das pessoas que estão ali. É muito bom ver que tem mais gente fazendo o mesmo em outros cantos do Nordeste”, disse Brenda Gomes, cofundadora do Entre Becos.
Todo o conteúdo do festival foi gravado e será disponibilizado no canal do YouTube do Instituto FALA!, em breve.
A quarta edição do Festival FALA teve o patrocínio do Google e do Sebrae, além dos apoios do Pulitzer Center, Escola de Ativismo, Repórter Sem Fronteiras e Énois Conteúdo.
Instituto FALA!
O Instituto FALA! é uma organização sem fins lucrativos fundada por quatro mídias independentes referências no jornalismo de causas: Alma Preta (SP), Marco Zero Conteúdo (PE), 1 Papo Reto (SP) e Ponte Jornalismo (SP).
Desde 2020, promove o Festival FALA!, editais de bolsas de reportagens e formações na área de comunicação e jornalismo de causas.
Mais informações: Site do FALA!
Agência Lema
Leandro Matulja /Letícia Zioni /Guilherme Maia
Carolina Bressane (+55 11) 99234-4570
Ricardo Oliveira (+55 11) 98578-4910
Leonardo Paixão (+55 11) 94984-8795